Locaweb Edição 103

18 // opinião // revista locaweb N ada é mais poderoso que uma ideia que chegou no tempo certo.” A frase de Victor Hugo, romancista, poeta e estadista francês do século 19, resume com precisão a força de um conceito robusto apresentado no momento oportuno. Feeling e timing. Essas duas palavras moderninhas, emprestadas da língua inglesa, explicam algumas das razões pelas quais boas ideias podem, simplesmente, ficar pelo meio do caminho (entenda: desaparecer). Significa que eram ruins? Não necessariamente. Podem ter sido lançadas de forma preliminar ou até mesmo tardia? Sim, existe a possibilidade. “Sentir” e saber a hora certa de apresentar um conceito são garantias de êxito? Absolutamente, não. Por que é importante falar sobre ideias? Porque elas são, por essência, a base de quase tudo o que é tangível e intangível. De produtos a serviços, passando por inovações em geral, conhecimentos científicos, valores culturais, ético-morais e ideologias, quase tudo o que conhecemos e/ou experimentamos nasceu, a priori, na cabeça, ou seja: na mentalidade de alguém (ou de “alguéns”). Uma ideia pode, literalmente, mudar tudo. Desde que, reforçando: apresentada na hora mais adequada. E criada a partir de questionamentos genuínos. Trazendo a conversa para o universo do empreendedorismo, é muito comum, por exemplo, negócios dos mais variados setores e tamanhos focarem excessivamente o lançamento de soluções, tangíveis ou não, abrindo mão de enxergar as reais motivações de prospects e de clientes. Ou seja: aquilo que atrai e que move as pessoas. Theodore Levitt, professor da Harvard Business School, cunhou na década de 1960 uma expressão imbatível – e atual: miopia emmarketing. Especificamente sobre o tema, escrevi na edição 88 da Revista Locaweb o artigo “Quando as empresas FEELING, TIMING E QUESTÕES CERTAS SÃO FATORES DETERMINANTES PARA O SUCESSO DE UM PROJETO Uma ideia só é boa se as pessoas acreditarem que ela é boa precisam ir ao oftalmologista”. Fica o convite à leitura. Autocentrismo. Eis uma das razões pelas quais boas ideias, sem o interesse, a participação e, principalmente, a contribuição dos outros, acabam fadadas ao fracasso. Resumindo: uma ideia só é boa se as pessoas acreditarem que ela é boa. Outro expoente nascido no século 19 foi Henry Ford, engenheiro mecânico e empreendedor americano, considerado historicamente como uma das grandes mentes inovadoras. Assim como Victor Hugo, Ford possui uma frase famosa atribuída a ele: “Se eu tivesse perguntado às pessoas o que elas queriam, elas teriam dito cavalos mais rápidos.” Ainda que não existam evidências concretas de que Ford tenha pronunciado essa frase, na época da invenção dos motores à combustão, até hoje ela é usada para reforçar a crença de que a inovação é plausível sem a colaboração alheia. Não é. Certamente, as pessoas não teriam falado precisamente: “queremos um automóvel”. O conceito de veículos motorizados não existia na época. Mas, em contrapartida, penso que teriam sido grandes as chances de alguém ter dito algo como: “a gente quer uma forma de transporte mais veloz”. Eis a arte de captar os anseios, de “traduzir” os sinais emanados pelos usuários. O fundador da Ford Motor Company “entendeu o recado”. E mudou literalmente os rumos do mundo. Feeling, timing e “right questions” é a trinca que transforma tudo. HIGOR GONÇALVES JORNALISTA, PÓS-GRADUADO EM COMUNICAÇÃO MERCADOLÓGICA E MARKETING DO CONSUMO, ESPECIALISTA EM ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO, COM MBA EM GESTÃO ESTRATÉGICA DE MARKETING. higorfgoncalves @ higorfgoncalves higor.fgoncalves@gmail.com

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