Locaweb Edição 104

20 // opinião // revista locaweb A o conviver com os bem mais jovens, com aqueles que se tornaram adultos há pouco e com aqueles que estão tateando para virar gente grande, percebo que estamos diante da geração mais preparada – e, ao mesmo tempo, da mais despreparada. Preparada do ponto de vista das habilidades, despreparada porque não sabe lidar com frustrações. Preparada porque é capaz de usar as ferramentas da tecnologia, despreparada porque despreza o esforço. Preparada porque conhece o mundo em viagens protegidas, despreparada porque desconhece a fragilidade da matéria da vida. E por tudo isso sofre, sofre muito, porque foi ensinada a acreditar que nasceu com o patrimônio da felicidade. E não foi ensinada a criar a partir da dor.” O trecho acima é o parágrafo de abertura do brilhante artigo “Meu filho, você não merece nada”, escrito pela jornalista Eliane Brum e publicado originalmente em agosto de 2011, no site da revista “Época”. O texto continua online e pode ser encontrado por meio dos buscadores. Trata-se de uma das melhores sínteses que já li sobre as gerações Y, Z e Alfa. Ou seja: aqueles que, grosso modo, nasceram nos anos 1980, meados dos 1990 e também a partir da segunda década dos anos 2000. O artigo da Eliane Brum continua atualíssimo. E cai como uma luva para retratar um perfil específico, de pessoas na faixa dos 20, 30 ou quase 40 anos de idade que vêm entrando em empresas ou fundando os seus próprios negócios. Uma turma com atitudes meio egóicas, que busca aplausos sem, de fato, se esforçar duramente. Gente que monopoliza o sucesso e que socializa o fracasso. É um dos perfis que, por exemplo, se encontra com relativa facilidade em startups. A ideia incrível que originou o novo produto? Foi do fulano de tal, o “p. das galáxias”, com certeza! O objeto não é lá grandes coisas e teve um desempenho ridículo nas vendas? Ah! A culpa é do time, claro, que não “performou” como deveria. Ou do mercado, que não soube reconhecer a genialidade do produto (entenda: do próprio fulano de tal, o “p. das galáxias”). Essa é apenas uma caricatura para ilustrar situações igualmente esdrúxulas que vivem acontecendo por aí, em empresas de todos os tamanhos e setores. Não se restringe às startups. COMO ONARCISISMO ESTÁ TOMANDO CONTA DAS CULTURAS EMPRESARIAIS A ideia de ser bem-sucedido não é igual para todos O narcisismo, aliás, tem caracterizado a nossa era. Vejo-o como uma espécie de doença na sociedade; como um dos “sintomas” de um tipo peculiar de histeria coletiva. Uma parte significativa das pessoas hoje em dia sente a necessidade de confetes, serpentinas e “likes” constantes nas mídias sociais porque precisa, antes de tudo, se autoconvencer. Muitos desejam sucesso a todo custo como uma espécie de compensação, de “máscara”, para ocultar angústias, medos, receios e dúvidas que sentem. Psiquiatras, psicólogos e psicanalistas conseguem explicar a questão com muito mais propriedade. Sou apenas um leigo tentando racionalizar a respeito de algo que, há algum tempo, venho testemunhando com frequência no dia a dia. Acredito que o sucesso é subproduto do esforço. É consequência de obstinação, luta, disposição e uma boa dose de ousadia. É um conceito relativo, acima de tudo, visto que a ideia de ser bem-sucedido não é igual para todo mundo. Conheço pessoas com grande patrimônio e visibilidade que me confessaram, reservadamente, desejar uma vida menos abastada e mais discreta. Também conheço o extremo oposto: indivíduos humildes e anônimos que admitiram cobiçar fama e opulência. Entendo que, nos dois casos, existe insucesso. No entanto, ambas as aspirações são legítimas. Penso que todos têm o direito de almejar e de obter o que procuram; de sentir-se bem na própria pele, consigo mesmos. Mas, insisto: é preciso lutar. “O reino dos céus é tomado por esforço, e os que se esforçam se apoderam dele." HIGOR GONÇALVES JORNALISTA, PÓS-GRADUADO EM COMUNICAÇÃO MERCADOLÓGICA E MARKETING DO CONSUMO, ESPECIALISTA EM ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO, COM MBA EM GESTÃO ESTRATÉGICA DE MARKETING. higorfgoncalves @ higorfgoncalves higor.fgoncalves@gmail.com

RkJQdWJsaXNoZXIy Mzk0Njg=