Locaweb Edição 106

18 // opinião // revista locaweb F az alguns anos que li pela primeira vez o texto “Uma Carta Aberta ao Brasil”, escrito pelo escritor e blogueiro norte-americano Mark Manson, autor do best-seller “A sutil arte de ligar o f*da-se – uma estratégia inusitada para uma vida melhor” (Editora Intrínseca). O texto circulou originalmente nas mídias sociais em 2016, e, nele, Manson aponta a cultura e o caráter do povo como razões para a maioria dos problemas enfrentados pelo Brasil (a carta está disponível na internet e pode ser encontrada por meio dos buscadores). “O problema é a cultura. São as crenças e a mentalidade que fazem parte da fundação do país e são responsáveis pela forma com que os brasileiros escolhem viver as suas vidas e construir uma sociedade”, critica. “Nos países mais desenvolvidos, o senso de justiça e responsabilidade é mais importante do que qualquer indivíduo. Há uma consciência social na qual o todo é mais importante do que o bem-estar de um só”, compara Mark Manson. Concordo com ele e penso que a mesma observação, resguardadas as proporções, é válida para o mundo empresarial. Um dos sinônimos de empresa, aliás, é organização, termo que remete ao vocábulo "organismo", que por sua vez dispõe de um par de significados: ummais genérico (“corpo”, “associação”, “coletividade”), e outro mais stricto – “criatura”, “indivíduo”, “ser”. A título de comparação, nenhum órgão pode “reivindicar” a supremacia do corpo inteiro: o coração depende do fígado, que precisa dos pulmões, que necessitam, por exemplo, do estômago. A “máquina” só funciona em conjunto. A parte compõe o todo. Mas o que esse papo sobre fisiologia animal tem a ver com o mundo dos negócios? Tudo. Empresas são organismos vivos. São ecossistemas formados por cada indivíduo, que opera em favor do crescimento do negócio. Compreender uma companhia como um sistema de conexões entre pessoas, a meu ver, é a forma mais adequada de gerenciá-la. Independentemente de cargos ou funções, trata-se de seres humanos que se encontram, trocam, se energizam e, claro, produzem resultados. Os pensamentos e as atitudes de cada um influenciam o ambiente de trabalho de todos. Eis aí uma das grandes razões pelas quais é preciso cuidar das pessoas. Cada indivíduo possui dentro de si a potência, a centelha, a energia vital que é capaz de criar. Ele só precisa do estímulo para gerar a resposta. ESTÍMULO E RESPOSTA: A BIOLOGIA TEM MUITO PARA ENSINAR AO MUNDO DOS NEGÓCIOS Empresas são organismos vivos Embora acredite que parte dos empresários brasileiros seja herdeira de uma tradição administrativa que remonta ao período colonial – e que ainda há muito para evoluir no tocante a uma gestão de talentos eficaz –, bons exemplos, felizmente, têm surgido. No livro “Cultura organizacional de resultados – casos brasileiros” (Editora Qualitymark), o professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Almiro Reis apresenta histórias de sete empresas de diferentes setores, tamanhos e culturas organizacionais. “Não são necessariamente as melhores e maiores do país, mas aquelas que, na minha avaliação e na do mercado, criaram culturas bem-sucedidas”, afirmou. O livro aborda os cases da Embrapa, da Fundação Roberto Marinho, do Hospital Albert Einstein, da InLoco, do Itaú Unibanco, do Magazine Luiza e da Terral. Mas como fomentar uma cultura organizacional vencedora? Nas palavras do autor, por meio “da criação de uma declaração de valores; da capacitação de líderes como agentes da cultura; da oferta de uma remuneração alinhada à cultura; do registro de um código de ética; e do uso de símbolos visuais que representem os valores da empresa”. Vou além: as células empresariais, assim como os demais organismos vivos, precisam carregar no mesmo DNA os genes que orientam as pessoas rumo à missão do negócio. É isso que dá às empresas as condições de sobrevivência, de desenvolvimento e de crescimento em ambientes de competitividade cada vez mais acirrada, da mesma forma que todos os seres vivos o fazem ao longo de todo o processo evolutivo. A biologia, que é a ciência da vida, tem muito para ensinar à administração, a ciência da razão. Que a “aula” seja repleta de energia. HIGOR GONÇALVES JORNALISTA, PÓS-GRADUADO EM COMUNICAÇÃO MERCADOLÓGICA E MARKETING DO CONSUMO, ESPECIALISTA EM ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO, COM MBA EM GESTÃO ESTRATÉGICA DE MARKETING. higorfgoncalves @higorfgoncalves higor.fgoncalves@gmail.com

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