Locaweb Edição 115

12 // entrevista // revista locaweb Nesta entrevista, Kepler compartilha um pouco da sua visão de mundo. Os ensinamentos são especialmente voltados para pequenos e médios empreendedores que estão em busca de um investimento para crescer. Alguns especialistas afirmam que o investimento- anjo é um dos tipos de negócio mais arriscados. Por que você decidiu entrar nesse meio mesmo assim? Não acho que o investimento-anjo seja a mais arriscada dentre as modalidades de negócio. Para mim, existem perigos maiores, a exemplo das criptomoedas. Tanto é que muitos estudos concordam em que, geralmente, 50% das PMEs morrem no começo, mas minha carteira tem um corte de 35% nesse sentido, sendo que as empresas que vingam retornam, em média, 15,4 vezes o valor investido e compensam as perdas. A chave está em saber filtrar e escolher bem, olhando a previsão do amanhã. Isso porque o investidor-anjo não entra no negócio para ser sócio ou ter lucro. Ele observa o quanto a empresa vai valer no futuro. Como você descobre as empresas que têm um futuro promissor? Eu observo a consistência dos números da startup nos últimos 12 meses. As empresas que me atraem são aquelas que conseguem equilibrar despesas e receitas, apresentando um crescimento ordenado e controlado, e não um salto absurdo. Também é importante ter um bom líder. Isso porque o negócio pode seguir rumos diferentes, mas o empreendedor, não. Se ele for arrogante ou mau-caráter, por exemplo, continuará assim. De forma geral, a pessoa precisa entregar resultados nos âmbitos profissional e pessoal. Do contrário, a chance de perder o investimento é grande. Uma vez que a startup apresente as características que você valoriza, como e quando ela deve começar a busca por investimento? O que eu digo para todo empreendedor é que ele deve buscar investimento após a fase de validação do serviço ou produto. Quando se tem apenas uma ideia, o investidor tende a oferecer menos dinheiro por um percentual maior da empresa – o que é ruim para seu negócio. Com os testes feitos, a pessoa fica mais segura do projeto que tem. Ela terá um planejamento mais estruturado, sabendo exatamente de quanto precisa para bancá-lo e a porcentagem exata de que deverá abrir mão. O que um empreendedor deve observar antes de fechar negócio com um investidor? A primeira dica é tomar muito cuidado com quem você vai trazer a bordo. Para não ver um anjo se transformar em diabo, converse com os líderes de empresas que já receberam investimento dele anteriormente. Um bate-papo despretensioso, sem perguntar diretamente se o investidor é bom ou ruim, vai mostrar nas entrelinhas quem ele é. O segundo conselho é pesquisar por área. Se você tiver uma startup de saúde, por exemplo, procure quem entenda do assunto. Lembre-se: investimento é muito mais do que dinheiro. Você também tem que buscar expertise. Parte dos seus ensinamentos são compartilhados no reality show “O Anjo Investidor”, que é veiculado pela RedeTV!, pela Jovem Pan e pelo YouTube. Como surgiu a ideia do programa? Meu filho mais velho teve a ideia. Após participar de uma mentoria comigo, ele comentou ao final que gostaria de ter filmado a conversa, pois poderia ajudar muitos empreendedores. A partir daí, resolvemos levar meu dia a dia para um reality show. Na prática, uma produção independente seleciona 13 startups que participarão da temporada. Eu só conheço a empresa cinco minutos antes da visita. A ideia é me pegar de surpresa e gravar o que acontece na vida real. É diferente do “Shark Tank” [programa exibido pelo Sony Channel], em que o investidor analisa o pitch. Eu analiso o business. Com base no mercado atual, você acredita que há espaço para novas startups mesmo em um cenário econômico tão instável? Tenho as melhores expectativas possíveis em relação a isso. Ao fazer uma analogia com o futebol, hoje o Brasil joga a Copa Libertadores da América. Temos ótimos projetos e empreendedores, com um total de 21 unicórnios – e contando. Não vejo o País regredindo nesse aspecto. Pelo contrário, vejo cada vez mais empresas crescendo rumo à Bolsa de Valores. Sendo assim, o que um empreendedor deve fazer para se destacar no mercado? A dica de ouro é resolver problemas e criar soluções. Não adianta querer fazer uma rede social igual ao Facebook. Quem vai querer usar isso? Pense naquilo que te incomoda e que pode atrapalhar a vida de muitas pessoas iguais a você. Ao encontrar essa dor, mapeie a persona do consumidor e desenvolva o serviço ou produto que vai eliminá-la. Dentre as empresas em que você já investiu, qual você destacaria como inovadora de fato para o mercado brasileiro? Se eu tivesse que citar apenas um nome, diria que a startup que mais marcou minha jornada como investidor-anjo foi a Hand Talk, um aplicativo que traduz conteúdos para a língua brasileira de sinais (libras). Além de ser um dos primeiros investimentos que fiz mais profissionalmente – lá em meados de 2013 –, é um negócio de impacto social que continua em crescimento. Isso sem contar que eu adoro os fundadores. De forma geral, a pessoa precisa entregar resultados nos âmbitos profissional e pessoal. Do contrário, a chance de perder o investimento é grande ''

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